Uma franquia de sucesso e renome como "Dungeons & Dragons" obviamente não ficaria de fora do mundo dos videogames. Não tardou para os vários mundos de "Dungeons & Dragons" receberem jogos nos mais diversos estilos: RPGs, shooters e até beat'em ups, como "Dungeons & Dragons; Tower of Doom" de 1993, o primeiro de uma excelente dupla de jogos lançados pela Capcom para arcade no início dos anos 90.
História e Roteiro
"Eu vou, eu vou, salvar Darokin agora eu vou" |
Jogava "Advanced Dungeons & Dragons"? Se jogava, vai reparar de cara que o enredo do jogo é um irmão gêmeo das aventuras e campanhas vendidas a parte, em suplementos. Tudo em "D&D: Tower of Doom" é genuinamente AD&D... roteiro, estilo, ambientação... até os textos e falas dos NPCs e vilões!
O jogo se passa no mundo de Mystara, o mais antigo cenário de AD&D (alguns até o chamam de "cenário básico"), mais especificamente na República de Darokin, uma república mercantil onde o poder está nas mãos dos mercadores e comerciantes, não da nobreza, que se localiza na parte central do chamado "Mundo Conhecido" (que engloba a parte leste do continente de Brun e as ilhas do Sea of Dawn).
Normalmente uma das regiões mais prósperas e pacíficas do Mundo Conhecido, Darokin tem sido nos últimos tempos assolada por ataques e saques de tribos de humanoides, como kobolds e gnolls, e de diversos monstros, como manticoras (como é de praxe acontecer nas regiões prósperas e pacíficas nos RPGs, em algum momento tudo vem abaixo e o caos impera).
Um dos comerciantes mais ricos e influentes da cidade de Athenos, Corwin Linton da Casa Mercantil Linton, começa a investigar mais a fundo os ataques e, por achá-los estranhamente organizados, desconfia que há uma mente inteligente e maléfica orquestrando tudo. Um mal maior do que meros gnolls, trolls e ogros por trás dos ataques- o que não é nem uma dedução muito difícil de ser feita, pois um ogro pode ser realmente quebrar ossos e arremessar pedras como ninguém, mas convenhamos que nunca venceria um torneio de xadrez...
Avisos de contratação de aventureiros são espalhados pela república, despertando o interesse de um quarteto de aventureiros, Crassus, o guerreiro; Greldon, o clérigo; Lucia, a elfa e Dimsdale, o anão. Ao viajarem por uma das estradas de Darokin, os heróis ouvem gritos desesperados pedindo por ajuda e se apressam em partir em socorro seja de quem for.
Afinal é para isso que servem os heróis, não?
Gráficos
"Olha o kobold aê, cambada! Pra cima dele!" |
Os gráficos de "Dungeons & Dragons: The Tower of Doom" são muito bonitos. Tanto os quatro aventureiros quanto os NPCs e oponentes são muito bem desenhados e cheios de detalhes- as criaturas, em especial, realmente parecem saídas do "Livro de Monstros" do AD&D! Um pormenor que gostei muito foi que nas cenas de diálogo, quem diz as falas aparece em destaque no centro da tela e isso vale até mesmo para NPCs genéricos sem nome, como o punhado de cidadãos aos gritos em fuga pelas ruas da cidade atacada.
O que foi dito dos personagens pode-se dizer também dos cenários, que tem todo aquele clima de RPG de fantasia medieval e assim como os personagens também é bem desenhado e rico em detalhes- aliás preste atenção, que alguns detalhes são mais do que enfeites! Assim como no RPG de mesa, aqui também tem algumas passagens secretas nas dungeons! As cores tem um tom mais sóbrio, com colorido menos brilhante que outros beat'em ups dos arcades da época, o que eu achei uma decisão bastante acertada da equipe de arte do título! Dá um tom mais rude, mais medievo ao jogo.
Outro ponto que vale a pena destacar é quão boa a animação e movimentação dos personagens é, tanto dos monstros quanto dos heróis. Todos movimentam-se de forma fluida, os golpes bonitos são bonitos. Ficou legal até quando são golpeados e caem ou ficam tontos, cheios de estrelinhas rodando em volta da cabeça!
Para quem jogava AD&D, é inconfundível a semelhança dos cenários e personagens com as belíssimas ilustrações que ornamentavam as dezenas de livros da franquia! O estilo é o mesmo, apenas acrescentado de um toque de "comics", provavelmente para encaixar melhor em outra mídia como os games.
Músicas e Efeitos Sonoros
Darokin, um bom lugar para passar as férias ou para saquear e incendiar, dependendo do seu gosto pessoal |
"Dungeons & Dragons: The Tower of Doom" tem um boa trilha sonora, bem feita, embora não muito inspirada.As músicas são boas, agradam ao ouvido e embalam bem a ação, mas não são marcantes.
Os efeitos sonoros são bons e bem variados. Os heróis falam durante o jogo, e a qualidade da voz é boa para um jogo da primeira metade dos anos 90. Os gritos e grunhidos de cada oponente são únicos para aquele tipo e tem efeito sonoro para quase tudo, desde espadas sendo desembainhadas até portas sendo quebradas e toras de madeira rolando. Destaque para o som metálico das armas se chocando ou escudos sendo golpeados.
Controles e Jogabilidade
"Pô... tá escuro... quem tá com a lanterna aê?" |
A jogabilidade é muito boa e os comandos respondem bem, o que é uma notícia reconfortante visto que os controles desse jogo não são tão simples quanto a média dos beat'em ups da época.
Além do ataque básico, os aventureiros tem uma série de outros, como golpear para trás sem precisar se virar, atacar para cima sem precisar pular, encontrões que podem derrubar ou tontear o oponente, golpes desferidos ao correr, saltos que terminam em mergulhos sobre o oponente e até um ataque que se faz quando se está agachado, que é devastador, mas bem complicado de realizar! A única dica possível a respeito de como dominar esses golpes todos é treino e um pouco de paciência. Demora um pouco pegar a mão, mas faz toda a diferença durante a partida, em especial nos níveis de dificuldade mais altos.
Fora isso, pode-se demorar um pouco para se pegar o jeito com o modo de selecionar e usar as armas secundárias, feitiços e itens mágicos (como anéis com feitiços de cura, por exemplo). Cada ação conta com um botão diferente e não é de fato difícil, apenas uma questão de se acostumar.
Dificuldade
Os quinze segundos de fama de um simples guarda de caravana |
Não é um jogo fácil, mas não é impossível. Originalmente era um arcade, logo precisavam chegar em um equilíbrio de fazer o jogador gastar mais quarters (moedas de 25 cents nos EUA) mas não ser frustrante e fazer o cara abandonar e ir jogar "Street Fighter 2". Basicamente o jogo tem aquela dificuldade exótica onde você só tem uma vida e não é difícil perdê-la, mas se colocar mais uns créditos vai passando de fase e pode até chegar no final.
Um ponto bem interessante é que a inteligência artificial dos inimigos é bem acima da média de outros jogos do gênero na época. Além de não ficarem parados para servir de saco de pancada para heroizinho em busca de fama, os inimigos, em especial os humanoides, tem muitas das habilidades que os aventureiros tem! Você pode bloquear com escudo? Eles também! Você pode lançar frascos de óleo incendiário? Cuidado para não acabar recebendo um no meio da testa também! Tem até inimigo que recua se a coisa fica complicada para o lado dele!
Cada um dos heróis tem suas características especiais e pontos fortes e fracos. O anão, por exemplo, é resistente a magias, tem muito ponto de vida mas seu alcance é curto e é o mais lento dos quatro, enquanto a elfa lança feitiços e é rápida feito um raio, mas tem pouquíssimos pontos de vida e é a menos resistente entre todos, e por aí vai. Não tem, entretanto, nenhum que eu ache realmente superior aos outros, dependendo mais do estilo de jogo de cada jogador. O ideal é jogar mais de uma pessoa e trabalhar em equipe.
Apesar de ser um beat'em up, "Dungeons & Dragons: The Tower of Doom" conta alguns elementos de RPG misturados com a pancadaria, como os heróis ganharem experiência e subirem de nível (aumentando sua HP por exemplo), além de, em determinados momentos, poderem escolher qual a próxima fase a seguir- por exemplo, vão atrás dos monstro que saquearam a caravana ou vão correr para ajudar a cidade que está sob ataque?- o que traz um fator de rejogabilidade bem interessante ao jogo.
Existem lojas que vendem armas (adaga, martelo de arremesso, flechas e frascos de óleo) e poções de cura, além de ser possível conseguir armas, itens mágicos (como as Gauntlets of Ogre Power, que aumentam a força do personagem), dinheiro, tesouros e (raramente) poções de cura pelos estágios. Dinheiro serve para comprar coisas nas lojas, obviamente, mas tesouros, como jóias ou pedras preciosas, servem para dar pontos de experiência extras.
Uma última coisa que precisa ser dita... um dos piores chefes de fase que já enfrentei é desse jogo: Flamewing, o dragão vermelho. Sem brincadeira, esse bicho é mais difícil que o próprio chefão final do jogo e é sem dúvida o maior desafio de "Duengeons & Dragons: The Tower of Doom"- entretanto, a recompensa por vencê-lo, em termos de pontos e tesouro, está a altura. O aviso está dado. Escolha com sabedoria.
Ou não... é só um jogo mesmo...
Comentário Final
"CACETEÉUMOGROTACAFOGONESSEBICHO" |
"Duengeons & Dragons: The Tower of Doom" é um grande jogo! É daqueles jogos tão divertidos que, mesmo após você ter chegado ao final, tem vontade de jogar mais vezes, para experimentar outros personagens e outros caminhos. Gráficos, música, enredo, desafio... tudo de qualidade e é um jogo que envelheceu bem. Se você gosta de beat'em ups, o jogo provavelmente vai te agradar. Se você é fã de AD&D, o jogo tem um sabor a mais, pois você verá na tela aquilo que antes imaginava dentro da sua cabeça.
NOTA: 9,5
OBS: Originalmente disponível apenas nos fliperamas, posteriormente "Dungeons & Dragons: The Tower of Doom" foi lançado para o Sega Saturn, numa dobradinha com sua sequência, "Dungeons & Dragons: Shadows over Mystara", mas permitindo apenas dois jogadores de cada vez. Atualmente ambos os jogos são vendidos juntos na loja Steam, mas um defeito dessa versão é que cortaram as cenas de abertura com a história de "Dungeons & Dragons: The Tower of Doom" que rolam antes da tela onde você seleciona com qual aventureiro vai jogar! Realmente odeio quando fazem isso! É frustrante e realmente um ato desrespeitoso para com o jogador.
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