Já que volta e meia eu tenho tocado no nome da Milmar, eu não poderia deixar de falar daquela que foi sua maior pérola, o jogo "Futebol".
Sim. O nome do jogo era esse. "Futebol". Apenas "Futebol".
Bem minimalista, não?
Esse foi um dos joguinhos não-licenciados meia- boca que fizeram muito sucesso na rua onde eu cresci, lá pelos anos 1990, 1991... E quando digo meia-boca, não estou brincando... para se ter uma ideia o jogo não tinha faltas e a forma mais usual de você roubar a bola era dando carrinho. E controlar o goleiro então? Era simplesmente terrível!
E ainda assim a galera se divertia horrores com esse jogo tosco, aglomeramdo-se em forma de meia-lua em torno da televisão e esperando ansiosamente sua vez de jogar. Eu era um dos poucos (talvez o único) que não curtia muito esse jogo. Joguei, participei dos campeonatinhos improvisados entre a gente e tudo mais, mas realmente não ligava de verdade.
Até porque eu tinha meu próprio cartucho de futebol para jogar no Phantom System, o "Soccer", que tinha ganho de aniversário do meu avô. "Soccer" era bem melhor, até porque era originalmente um jogo licenciado Nintendo, lançado em 1985. O meu cartucho, de fato, não era original e sim um dos cartuchos piratas produzidos aqui para os NES-clones, mas o jogo em si era igual ao dos cartuchos cinzentos das locadoras.
Voltando ao "Futebol" da Milmar... mas como um jogo tão meia- boca fez tanto sucesso? Primeiro porque era um jogo de futebol, e no início dos anos 90 era praticamente obrigatório você gostar de futebol. Os poucos que não gostavam, como eu, eram comumente alvo de profundo espanto e ofensas gratuitas,
Um segundo fator, e bem importante, é que foi o primeiro jogo em nossa língua que vimos. A tela de abertura estava em português. Espantoso naqueles tempos!
E não era só isso! Os times disponíveis para escolha eram brasileiros! Pela primeira vez tinhamos a possibilidade de selecionar clubes daqui para jogarmos! Estava escrito até na caixa, com todas as letras, "Times do Brasil"! Até então todos os jogos de futebol que conhecíamos, como o supervalorizado "Super Futebol" do Master System, só tinham seleções de países para o jogador escolher. Isso foi motivo de delírio entre a molecada!
O "Futebol" da Milmar trazia oito clubes brasileiros conhecidos, sendo três do Rio de Janeiro: Vasco, Flamengo e Fluminense. A molecada exultava por poder jogar com seu time do coração! Meu irmão mais novo só jogava com o Vasco. Tinha um amigo que só jogava com o Flamengo e por aí vai.
O problema era quando dois caras que torciam para o mesmo time iam jogar um contra o outro. Sempre estourava briga para decidir quem escolheria o time para o qual torcia. As vezes a discussão durava mais temo que a própria partida, e tudo isso para acabar sempre da mesma maneira: uma disputa de par ou ímpar para decidir quem escolheria o time primeiro
Exceto,l se um deles fosse o dono do cartucho, pois aí o cara sempre tinha prioridade, obviamente.
Além dos três times cariocas ainda tinham quatro
de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, Santos e o próprio São Paulo) e um do Rio
Grande do Sul (Internacional) como opção de escolha. Geralmente quem selecionava algum desses eram aqueles que torciam pelo Botafogo, deixado de fora pela Milmar ao compôr o elenco de "Futebol". Só restava aos botafoguenses escolherem o Corinthians e fingir que era o Botafogo com o uniforme reserva.
Não faço a menor ideia se a Milmar conseguiu uma autorização formal dos clubes para usar os nomes e escudos, mas se tivesse que apostar, eu diria que não. Mesmo que tenha sido assim, na cara de pau, ninguem foi pedir satisfaçã na justiça e ficou tudo por isso mesmo. Acredito que os clubes não tenham dado a mínima. Era o comecinho dos anos 90, afinal. Era outra época, onde tudo era bem mais bagunçado.
Aliás, a forma como o próprio cartucho "Futebol" veio a existir era fruto disso, desse contexto da época. Mais especificamente da reserva de mercado que permitiu que os NES-clones existissem e que versões não-oficiais dos cartuchos de Nintendo fossem fabricados aqui. Já teve muita gente falando disso, e melhor do que eu seria capaz de fazer, então vou apenas me centrar mesmo só no caso do "Futebol".
A Milmar não desenvolveu o jogo, é claro. A empresa brasileira apenas alterou o o título original na tela de abertura e o menu de seleção de times de um jogo (não licenciado) originalmente lançado pela America Video Entertainment, "Ultimate League Soccer". Já a arte da capa se não me engano foi feita aqui, sendo diferente da original, e até que não era das piores.
Obviamente nenhum de nós sabia disso na época. E a verdade é que nem nos importavámos em saber. O cartucho existia, estava em nossas mãos e tinha times brasileiros. Era o suficiente.
Não faço a menor ideia se a Milmar conseguiu uma autorização formal dos clubes para usar os nomes e escudos, mas se tivesse que apostar, eu diria que não. Mesmo que tenha sido assim, na cara de pau, ninguem foi pedir satisfaçã na justiça e ficou tudo por isso mesmo. Acredito que os clubes não tenham dado a mínima. Era o comecinho dos anos 90, afinal. Era outra época, onde tudo era bem mais bagunçado.
Aliás, a forma como o próprio cartucho "Futebol" veio a existir era fruto disso, desse contexto da época. Mais especificamente da reserva de mercado que permitiu que os NES-clones existissem e que versões não-oficiais dos cartuchos de Nintendo fossem fabricados aqui. Já teve muita gente falando disso, e melhor do que eu seria capaz de fazer, então vou apenas me centrar mesmo só no caso do "Futebol".
A Milmar não desenvolveu o jogo, é claro. A empresa brasileira apenas alterou o o título original na tela de abertura e o menu de seleção de times de um jogo (não licenciado) originalmente lançado pela America Video Entertainment, "Ultimate League Soccer". Já a arte da capa se não me engano foi feita aqui, sendo diferente da original, e até que não era das piores.
Capa original do jogo original |
Obviamente nenhum de nós sabia disso na época. E a verdade é que nem nos importavámos em saber. O cartucho existia, estava em nossas mãos e tinha times brasileiros. Era o suficiente.
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