30 de jan. de 2019

Dragon View


O Super Nintendo foi o console de 16 bits com o maior número de RPGs lançados e no meio das dezenas deles que chegaram às prateleiras das lojas e locadoras, é natural que alguns, até mesmo legais, tenham passado quase batido. Esse foi o caso de "Dragon View", um RPG de 1994 conhecido como "Super Drakkhen" no Japão, por ser uma sequência (bem frouxa e com poucas ligações, por sinal) do burocrático "Drakkhen" de 1991. "Dragon View" é um RPG que misturou clichês com aspectos bem singulares e, imerecidamente, não é muito lembrado hoje em dia nem mesmo pelos gamers veteranos.

História e Roteiro


O enredo de "Dragon View" mistura dois dos motivos mais batidos da época: salvar a mulher amada e evitar que o mundo seja tomado pelas trevas. Nada realmente muito original, mas serve aos propósitos do que o jogo pretende ser.
O herói do jogo (o qual você pode escolher o nome ou aceitar o nome pré-definido Alex) aparentemente está no melhor momento de sua vida. Sua amada Katarina, em um beloe romântico momento, aceita o pingente que o jovem guerreiro lhe oferece. A alegria de Alex é tanta que não deixa de sorrir nem durante o exercício de executar 10000 golpes de espada passado por seu instrutor de esgrima, Damme.
Mas obviamente alegria de guerreiro jovem dura pouco em RPG... uma esbaforida e preocupada Katarina interrompe o treino e pede para que Alex procure por seu velho tutor, meste Quros, que havia ido cedo ao arsenal e não retornara ainda. Alex parte até o arsenal e a aventura tem início... logo as coisas se complicam, com Katarina sendo sequestrada por um mago maléfico, Argos, o qual também pretende abrir uma porta entre o mundo dos homens e o mundo dos demônios. Ou seja, basicamente um feiticeiro maligno padrão, com direito a discursos arrogantes para debochar do herói e risadas maléficas.
Alex (ou seja lá o nome que você colocar nele) agora deve botar o pé na estrada e salvar o dia.  Tudo muito típico de um RPG dos anos 90, sendo a grande diferença é que os textos de "Dragon View" lembram mais os de um livro (em especial dos livros- jogos da série "Aventuras Fantásticas") do que o padrão dos games de RPG da época, sendo bem mais descritivo.
Um dos momentos em que o jogo é mais datado é quando ao confrontar Argos pela primeira vez, no momento em que o feiticeiro está sequestrando Katarina, Alex o desafia perguntando se a coragem de Argos se resumia a atacar pessoas indefesas, incapazes de se defender (no caso específico, Katarina). Muitas das jogadoras de hoje provavelmente trincarão os dentes ao ver esse trecho, e com razão, mas lembrem-se... é um jogo de 25 anos atrás... a "donzela em perigo" era um dos motes mais comuns dos jogos de videogame naqueles tempos.

Gráficos


Os gráficos são medianos- na verdade fica-se com a impressão de que, sendo um jogo de SNES, ficou abaixo do esperado. Os personagens e monstros não são ruins, apenas mais "serrilhados" do que se esperava para um jogo de Super Nintendo de 1994! Sem dúvida aqueles que mais chamam a atenção dentre os personagens do jogo são os sprites dos inimigos chefes, bem maiores e melhor animados que os outros. Quanto aos cenários... são em sua maioria simples, sem muita coisa marcante. Cumprem sua parte e caso encerrado. 
O maior destaque dos gráficos (se de forma positiva ou não é discutível) é o cenário do mundo, onde o herói se desloca (e enfrenta uns inimigos pelo caminho) para alcançar as cidades, dungeons e demais localidades dos reinos, todo feito em 3D- rudimentar, porém genuinamente 3D- baseado no engine de seu antecessor "Drakkhen". Hoje em dia obviamente parece datado e primitivo, com cores mortiças e  cenários simplistas, com elementos que se repetem e repetem, mas... o jogo é de 1994, lembra? Exigir mais seria covardia... para a época em que saiu, de fato deve ter sido algo significativo.

Música e Efeitos Sonoros


Tanto as músicas quanto os efeitos sonoros do jogo são razoáveis sem serem notáveis. Bem feijão-com-arroz mesmo, embora bem feito. É justo dizer que tanto as músicas quanto os efeitos sonoros até agradam, mas são pouco marcantes e dificilmente vão ficar rodando na mente o jogador depois que ele parar de jogar.
Nas músicas das cidades e aldeias há muitos tons que lembram flautas e violinos tocados de forma pizzicato, algo bem usual do estilo musical pseudo-medieval dos jogos de RPG (algo que acho um pouco esquisito em um jogos"medieval", pois o violino surgiu no início da Idade Moderna, no final do século XVI ou início do século XVII... enfim... coisas de RPG antigo), enquanto nas partes de ação a música é mais agitada, para combinar com a tensão do momento. Gostei particularmente da música leve que toca na cena de abertura, quando Alex entrega o pingente para Katarina, mas não tenho como negar que não ouvi coisa melhor antes.

Controles e Jogabilidade


Os controles e a jogabilidade respondem bem, sendo o único ponto mais complicado é que leva-se um tempinho para aprender a se deslocar pelo mapa 3D do mundo, sendo essencial o uso dos mapas combinado com o da bússola que fica na parte de baixo da tela. Nada realmente complicado, pura questão de prática.
Outro ponto que merece atenção é como se usar os itens do inventário, bem diferente da maioria dos RPGs: primeiro seleciona-se o item no inventário, aí se saí do inventário e, na tela do jogo, aperta-se o botão "A".Dá para se habituar? Sim, sem problemas, mas. em especial para usar as poções de cura, é um pouco chato.
Algo que o jogador pode ficar despreocupado é que nas lutas os controles respondem bem e não são complicados- algo muito importante em um action RPG  com lutas em tempo real como "Dragon View"!

Dificuldade


"Dragon View" não é um jogo difícil- exceto quando você pisa onde não deve e entra em uma dungeon antes do tempo e os monstros limpam o chão com a tua cara. Tirando esse detalhe, que pode ocorrer em qualquer jogo não tão linear e/ou com mundos abertos ou semi-abertos (como o primeiro "Dragon Quest"/ "Dragon Warrior" do NES), a dificuldade é bem tranquila. Tem desafio o suficiente para o jogador ficar atento e evitar a monotonia, mas nada realmente injusto que cause frustração.
Existem poucas armas no jogo, e você acabará mesmo usando sua espada na maior parte do tempo. Aliás você não pode trocar sua espada ou sua armadura por outras mais fortes, diferente da maioria dos RPGs, mas pode encontrar power ups que façam sua espada e armadura subirem de nível, tornando-se mais fortes. O jovem guerreiro também sobe de nível, o que traz alguns benefícios gradativamente.
O jogo também tem um punhado de itens, sendo as poções de cura sem dúvida os mais importantes em termos gerais, enquanto outros são indispensáveis para se passar por algum trecho do jogo e seguir adiante. Aliás, esse é outro ponto datado que pode incomodar jogadores mais novos... o jogo é cheio de idas-e-vindas, por exemplo  indo se falar com uma pessoa para conseguir informação, depois tendo que se voltar um pedação para buscar um item com outra, e depois tendo que fazer o caminho de volta para aí sim ir para onde se precisa. Isso era mais uma característica da época do que um defeito de "Dragon View, mas realmente tem oras que fica um pouco cansativo.

Comentário Final

Capa japonesa do jogo
"Dragon View" é um jogo com muitos aspectos datados e cujas inovações, arrojadas para a época, hoje em dia pagam o preço do tempo, parecendo limitadas e rudimentares perante os padrões atuais, mas,ainda assim, éum jogo divertido, que vai render umas boas horas de diversão- em especial para aqueles que são fãs de RPGs e JRPGs!
É um título que lembra uma mistura de seu antecessor "Drakkhen" com "Sword of Vermilion" do Mega Drive, oferecendo diversão sem muito compromisso e que vale a pena ser conhecido, nem que apenas por mera curiosidade.

NOTA: 6,0

OBS: "Dragon View" atualmente se encontra disponível para compra na loja Steam, graças ao trabalho da Piko Interactive que o tirou do limbo.

Um comentário: