20 de ago. de 2019

8 Eyes


Nos anos 90, quando um título alcançava um sucesso estrondoso quase invariavelmente surgiria uma revoada de clones em seu rastro. A qualidade desses clones variava.... alguns eram bons, com qualidades o suficiente para brilhar por conta própria, outros eram tremendamente ruins, versões meia-boca e mal acabadas do jogo de sucesso, e também havia aqueles que ficavam no meio termo... não eram estupendos, mas também não eram medonhos. Não se igualavam ao jogo que clonavam, mas tinham atrativos o suficiente para oferecer uma experiência de jogo razoável. O "Castlevania-clone" lançado em 1988 para NES pela pouquíssimo lembrada Thinking Rabbit, "8 Eyes" é um bom exemplo dessa terceira categoria.

História e Roteiros


A primeira vista "8 Eyes" parace ser um jogo ambientado em um cenário medieval com toques fantásticos, mas na verdade o jogo tem um enredo de ficção científica!
Após centenas de anos de caos e guerra nuclear, finalmente a humanidade parece estar se recuperando e a civilização aos poucos começa a se fortalecer, graças ao sábio governo do Great King ("Grande Rei"), o qual conseguiu dominar o uso de 8 pedras preciosas místicas, as "8 Eyes" ("8 Olhos"), cada uma delas formada no centro de uma explosão nuclear que, juntas, quase levaram a raça humana a seu fim.
Obviamente uma experiência de quase-extinção não é o suficiente para fazer o ser humano tomar vergonha na cara e deixar de ser um poço de cobiça pelo poder. Oito duques se apropriam, cada um, de uma das jóias e banem o rei para um deserto radioativo. E se isso por sí não fosse ruim o suficiente, o poder  das "8 Eyes" quando mal usado pode causar uma destruição sem igual- não esqueça que, no fim das contas, elas surgiram de explosões de bombas nucleares.
Agora tudo depende de um dos espadachins do rei, Orin The Falconer (Orin, o Falcoeiro) e seu fiel falcão adestrado, Cutrus. Os dois devem derrotar os oito duques e suas hostes de seguidores bizarros, recuperar as "8 Eyes" e trazer o rei de volta, evitando assim que o que era para ser um recomeço para a humanidade torne-se um ponto final.
Uma história bem 80's, muito legal, com um quê de "Hokuto o Ken". Realmente divertida, mesmo que não muito profunda.

Gráficos


Os gráficos são aceitáveis. Estão na média para um jogo de NES, mas com alguns detalhes que são até legais como azulejos os azuis na fachada do palácio da Arábia.No geral a arte do jogo, tanto no que toca a cenários, protagonista ou inimigos, segue o estilo de "Castlevania", porém em uma versão mais pobre.
Falando nos inimigos, muitos deles são consideravelmente estereotipados e inclusive tendem a se repetir em diferentes estágios, como os guerreiros com cimitarra e turbante que aparecem tanto na Arábia quanto na índia. Outras são, a primeira vista, um tanto sem sentido, como as caveiras flamejantes voadoras ou os esqueletos com espadas, mas o jogo deixa subentendido que após o caos a magia retornou ao mundo- inclusive o duque do Egito é um feiticeiro!
Por fim... os sprites, tanto dos inimigos quanto dos heróis, falando de forma bem direta, não tem nada de especial, sendo bem medianos- e isso vale mesmo para os chefes de fase, os quais são apenas um pouco maiores que os outros oponentes.
O mesmo pode ser dito da animação de forma geral... mediana, mas uns frames a mais não fariam mal.
Ah... e a entrada do palácio do Egito é claramente inspirada no templo de Abu-Simbel- aquele que foi desmontado e remontado em outro lugar devido a construção da represa de Assuã!

Música e Efeitos Sonoros



A trilha sonora de "8 Eyes" recebeu uma atenção acima da média para aquela época. Composta pelo pouco conhecido Kensou Kumei, a trilha sonora do jogo é bem variada, cada fase tendo três músicas diferentes (a da entrada do palácio, da fase em si e a do chefe), além de músicas de abertura e final  de qualidade acima da média.
O compositor tentou encaixar cada música com o cenário tema, ajudando a criar um clima legal para você guiar Orin saltando e lutando por uma sala atrás da outra. Pode não ser a trilha sonora mais marcante do mundo dos jogos, mas é de fato bem legal. Eu gosto, em especial, da música tema do chefe da fase da Itália,

Controles e Jogabilidade


Controle e jogabilidade são, indubitavelmente, o aspecto do jogo em que o tempo mais cobrou seu preço, porém não é nada tão extremo quanto alguns jogadores já falaram internet afora. 
A jogabilidade é, francamente, limitada... Lembre-se... o controle do NES só tinha dois botões e isso foi um complicador para o jogador realizar as ações diferentes de saltar e golpear... Controlar Cutrus, o falcão, sem um player 2 não é a tarefa mais fácil do mundo, embora  não seja nenhum desafio impossível. Orin, o Falcoeiro, também não é tão lento como alguns falam, mas a precisão dos pulos deixa um tanto a desejar- o que não era nenhuma raridade nos jogos de 8 bits, vamos ser francos!
Algo que me incomoda um pouco mais é que muitas vezes você acaba usando a arma especial sem querer, consumindo a toa pontos de uso que vão fazer falta depois. Enfim... "8 Eyes" tem alguns daqueles comandos chatinhos de jogos de poucos bits, onde se precisava gastar um tempo até pegar o jeito, mas nada que qualquer jogador veterano já não tenha passado em jogos até mais famosos do que esse.

Dificuldade


"8 Eyes" é um jogo bem hardcore. A dificuldade é alta, mas não tanto quanto alguns contemporâneos como "Battletoads" ou "Contra". Algo que complica bastante é que o jogo é cheio de pequenos problemas típicos de 8 bits... subir ou descer uma escada, por exemplo, será mais complicado do que deveria em alguns momentos...
O alcance da arma do herói deixa a desejar... parece que Orin como espadachim tinha preferência por espadas curtas...em um primeiro momento pode parecer impossível derrotar um mero inimigo d efase sem ser ferido, mas logo se pega os padrões de cada um e como derrotá-los- basicamente variações no padrão de golpear-recuar-esperar o momento certo- golpear de novo. Atenção! Alguns inimigos só podem ser eliminados pelo ataque em mergulho do falcão Cutrus.
Tanto Orin quanto Cutrus tem barras de energia razoavelmente longas, mas por outro lado não é muito fácil recuperar energia, pois os power ups de cura não aparecem com tanta frequência...
Falando em power ups... o jogo tem cinco armas auxiliares diferentes, sendo a ice ball na minha opinião a mais útil delas, pois pode paralisar até os chefes de fase. O bumerangue e a pistola ajudam também,enquanto o coquetel molotov é menos útil do que o esperado.
Escondidos nas paredes das fases (bem estilo "Castlevania'") você encontra seis tipos de itens diferente. Cinco são power ups que recuperam energia ou aumentam suas barras (vida de Orin, vida de Cutrus e a barra com os pontos de armas secundárias) e o sexto são pergaminhos vermelhos amarrados com fita. Cada fase tem um pergaminho escondido, com dicas bem criptográficas ligadas ao enigma das oito jóias. Golpeie sem dó as paredes para encontrá-los!
O jogo em si se divide em sete estágios, cada um representando o palácio de um duque em alguma região do mundo: Arábia, Espanha, Egito, Itália, Alemanha, África e Índia, os quais o jogador pode, a priori, selecionar e jogar em qualquer ordem, ao estilo "Mega Man'" Existem, contudo, dois fatores complicadores... 
O primeiro é que os castelos da África e da Alemanha são labirínticos, sendo o labirinto da Alemanha é o pior dentre os dois.... realmente bem enjoado! Daqueles que você pode acabar rodando em círculos por um bom tempo!
O segundo é que, ao se derrotar o duque de um castelo, Orin recebe uma nova espada, a qual é eficiente APENAS contra UM duque específico dentre os outros seis! lutar com a espada errada contra o duque errado é a mesma coisa que estar usando sua espada inicial! 
Existe uma ordem mais adequada para se escolher os castelos, mas em grande parte ela é aprendida por tentativa e erro, o que realmente pode estar além dos limites da paciência de muitos jogadores... e a única dica que o manual do jogo dá é uma recomendação bem vaga para que se comece pelo castelo de um país que fica perto da França.
Além de uma espada, ao se derrotar cada duque se recupera uma das jóias. Após se recuperar as sete primeiras pode-se ir para a última fase do jogo, Castle of Ruth ("Castelo de Ruth"), onde a chefe final do jogo, Ruth, aguarda o falcoeiro e seu aliado emplumado.
No fim das contas, paciência acaba sendo o principal atributo para quem quiser zerar "8 Eyes". O resto é só questão de um pouco de prática.

Comentário Final

Capa norte-americana  de "8 Eyes", um dos raros casos em que a capa dos E.U.A foi mais legal que a japonesa!
Como dito acima, "8 Eyes" é um jogo oldschool bem hardcore, e isso tanto para o bem quanto para o mal... o jogo tem seus senões, alguns impostos pela limitação técnica daqueles tempos, outros aparentemente por ter sido desenvolvido por um estúdio menor, o qual provavelmente não tinha recursos sobrando, mas "8 Eyes" realmente não merece as duras críticas que tantas vezes recebeu. Mesmo seus defeitos são mais da sua época do propriamente dele... é criptográfico demais? Vários jogos dos anos 80 também o eram. 
No geral, "8 Eyes" é um jogo de aventura bem razoável, com uma trilha sonora sortida e que não desagrada os ouvidos, somado a uma história que navega com sucesso entre o trash e o épico. E se você, em especial, gosta de jogos estilo "Castlevania", esse é um título a se conhecer. Merece a tentativa.

NOTA: 6,0

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