30 de set. de 2020

Divagações Oldschool: Playland

 


Já ouvir dizer que quando você gostava muito de um lugar na infância jamais esquece o nome. Devo ser uma exceção a essa regra, pois esqueci o nome da Playland e só lembrei graças ao oráculo da internet. E  olha que meu irmão e eu gostávamos muito daquele lugar.

Aliás, se você era um garoto ou garota que curtia videogame no início dos anos 90 na cidade do Rio de Janeiro, você adorava a Playland.  A loja era gigantesca (para os padrões da época, claro), com dois andares. O de baixo era mais próximo de um parque de diversões tradicional, com carrossel e afins. O segundo andar era a Shangri-La dos fãs de jogos eletrônicos.

O maior arcade da cidade, com bem mais de uma dezena de máquinas de pinball enfileiradas; simuladores de corrida de todo tipo;  dezenas de "flippers" (máquinas de arcade em gíria da época) com os mais diversos e badalados títulos... "Teenage Mutant Ninja Turtles", "Moonwalker", "Street Fighter II", "Alien Storm", "Mortal Kombat"- tinha até aquele com hologramas, "Time Traveller". Fora as máquinas que misturavam arcade com simulador, onde você girava e rodopiava preso à cadeira igual à ação dentro da tela do jogo! Tinha também um com armas de plástico semelhantes a revólveres Colt onde se atirava em bandidos que pareciam saídos de um filme de faroeste italiano. A gente se amarrava!

Como falei, todo mundo amava a "Playland". Era unanimidade entre meus colegas de classe e a galera lá da rua, mas isso não significa que se ia muito lá... A classe média espremida daqueles difíceis tempos pós- Plano Collor não podia bancar idas semanais (sequer mensais) à "Playland". Lá era legal, mas não era barato.

Meu irmão e eu teríamos ido bem menos lá se a sorte não tivesse dado de bandeja um presente sem igual para a gente: Meu pai tinha um amigo que trabalhava lá, na parte administrativa. Seu nome era Francisco, mas para nós, meu irmão e eu, era o tio Chiquinho. 

Tio Chiquinho era um coroa sorridente. Amigo do meu pai a perder de anos. Volta e meia quando  íamos ao Barrashopping, meu pai falava a frase que mais ansiávamos: "Vamos ver se o Chiquinho está lá". Enquanto meu pai e minha mãe colocavam a conversa em dia com o tio Chiquinho, ele dava um jeito para meu irmão e eu jogarmos de graça- em geral abrindo um painel com uma ferramenta que chamávamos de "chave"  e mexendo em algo lá dentro. 

Não que fossemos abusados. Meus pais não deixavam a gente pedir para jogar muito. Eram duas ou três vezes, normalmente. Nós ficávamos, obviamente, cheios de vontade de pedir para jogar só umazinha a mais, mas achávamos melhor não falar nada nem insistir com medo de perder aquilo que reconhecíamos como um privilégio. Quando o mês não estava tão apertado, meus pais compravam umas fichas para o jogo não parar, mas não era sempre.

A grande exceção foi um aniversário meu. Tio Chiquinho carimbou meu braço, o do meu irmão e do nosso primo e pudemos andar quantas vezes nós quisemos nos brinquedos do primeiro andar... barco viking, carrinhos de bate-bate, mini-montanha russa...quando cansamos e fomos para o segundo andar... esse dia eu realmente perdi a conta de em quantas máquinas joguei. Nunca tinha jogado tanto arcade antes. Nunca mais joguei tanto arcade depois.

Com o tempo, as idas à Playland foram rareando, por umasérie de razões. Quando eu estava no segundo grau, já mais para o final dos anos 90, eu jogava bem menos do que jogava até 1995, 1996... Outros interesses, estudo, curso, momentos de pouco dinheiro no bolso, alguns empregos temporários... videogame foi ficando em segundo plano. 

E assim fotam correndo os dias. A Playland fechou. Em 2003 foi substituída por outa loja, a Hot Zone. Nunca fui lá. Estava na faculdade nessa época e ir a um arcade e sequer considerava a ideia de ir a um arcade aquele tempo. Perdi contato com o tio Chiquinho a muitos anos. Acredito que esteja aposentado, mas não tenho como saber, ainda mais agora que meu pai não está mais aqui. Espero que tio Chiquinho esteja bem. Gostaria muito de reencontrá-lo, de verdade, apenas para dar-lhe um grande abraço e dizer obrigado. Só isso.

Mas... admito... se ele ainda tiver a velha "chave" e e perguntar se eu quero jogar um pouco de fliperama como nos velhos tempos... eu aceito.





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