31 de out. de 2019

Divagações Oldschool: O dia da fita errada




Como comentei em uma postagem anterior, das locadoras que aquela que eu mais frequentava era uma chamada "Flórida". O maior diferecial da Flórida para as outras era como os (muitos) jogos de lá estavam expostos. A Flórida não colocava as caixas dos jogos em uma prateleira, uma ao lado da outra, exibindo a capa. a Flórida os jogos ficavam expostos em estantes espalhadas pelo salão, especialmente feitas para a locadora (pelo menos nunca vi em nenhuma outra), com as caixas dos jogos eram desmontadas e colocadas dentro de um "sanduiche"' de acrílico transparente, os quais ficavam presos às estantes de forma a serem virados como as páginas de um livro.
Já tinha mais ou menos explicado isso antes, assim como para pedir o jogo você tiha que dizer para as moças do balcão um código, grande feito password de jogo dos anos 80, colado em uma etiqueta (igual aquelas que colocavam com nossos nomes nos cadernos quando eramos criaças estudando no primário) do tal saduíche de acrílico.
Eu, malandro o suficiente para fazer o óbvio, em geral levava um pedaço de papel e uma caneta ou lápis para anotar o código. Depois chegava no balcão entregava e "É esse, por favor". Perfeitamente eficiente e racional, digno de um vulcano de "Star Trek".
Mas... teve um dia que não foi bem assim... férias de janeiro de 1994... meu irmão e eu havíamos ganho nosso Mega Drive no Natal de 93, então aquelas férias foram o frenesi dos 16 bits! Não sei como o cartucho de "Sonic the Hedgehog 2" não derreteu! Provavelmente foi o mês que mais gastamos grana em locadora!
Em um dia qualquer dessas férias, acho que em um sábado, pois lembro que meus pais foram junto (eles alugavam filmes na mesma locadora), eu estava quase alucinado para jogar "Golden Axe 2", após ter adorado o primeiro jogo da franquia. Revirei as prateleiras feito doido, achei o jogo e só aí percei que, a pressa, tiha esquecido de trazer papel e caneta.
Pedi para miha mãe ver se tinha caneta e algum papel a bolsa dela, como é quase certo que haveria? Nãaaaoooo... ia demorar muuuuuiiiitoooo e eu queria ir logo para casa e jogar "Golden Axe 2". Eu não tinha boa memória? Papel para quê? Eu decoro o código... não preciso anotar nada!
Li a etiqueta umas duas vezes e lá fui eu falar com as atendentes. Falei o número, peguei o jogo e fui apressar meus pais para irmos pra casa. Eu podia ter conferido o jogo na hora para ver se era mesmo o que eu queria, não? Mas não... a sede de jogar falava mais alto e eu só queria ir logo para casa.
Chegado em casa foi aquela correria para conectar todos os fios e a fonte a tomada. TV no canal 3 e aí é só colocar o cartucho. Pronto!
Ou quase... no lugar de um mundo de bárbaros, espadas, machados e gigantes, me deparo com um cenário de ficção cietífica onde uma guerreira futurista de cabelo azul pilota uma moto voadora e atira em outras naves e demais parafernálias high-tech. No lugar de "Golden Axe II" eu havia trazido "Burning Force"!

Isso não é "Golden Axe 2" não...

O sangue subiu. Comecei a esbravejar, culpando a moça da locadora por ter se confundido e me entregado o jogo errado, que essa droga de jogo não era o que eu tiha pedido e por aí vai.
Não vou mentir... minha relação com meu pai muitas vezes não foi das mais fáceis, então a reação dele ao ver a situação realmente me surpreendeu. Eu achava, sinceramente, que ele diria algo como "esse é o jogo que está aí então é isso que você vai jogar e não reclama!", mas não!
Meu pai, com uma expressão que misturava preocupação e tristeza (provavelmete por ter visto a alegria que até pouco tempo eu estava), pergutou-me "Mas o que houve, filho?  Não era esse o jogo?". Repeti de novo, no mesmo tom enraivecido, tudo que eu havia acbaado de falar e meu pai pergutou "mas o jogo é ruim? O jogo é bobinho? É bobinho demais?".

Definitivamente isso não é "Golden Axe 2"...

Aquilo me desarmou... já baixando o tom de voz para um nível civilizado, confessei que mal havia jogado... apenas dado o "start", ainda surpreso por não ser o jogo que eu queria. e movimentado a moto voadora por uns segundos antes de começar a reclamar. Nem sabia dizer se o jogo era bom ou ruim.
"Vamos ligar para a locadora e ver o que aconteceu. Se eles erraram a gente vai lá e troca a fita", ele propôs, visivelmente tentando me acalmar. Ligamos. A pessoa que atendeu pediu o número da etiqueta colada no cartucho, que era o mesmo que ficava no mostruário, para comparar com o registro da locação no computador da locadora.
O código era o mesmo. Eu, na pressa, havia decorado errado e confundira um ou dois dígitos. Acho que troquei a posição de dois deles, não lembro bem, mas acabei dizendo o código de outro jogo e não daquele que eu queria.
A culpa havia sido minha e não da moça do balcão. Como éramos clientes habituais da locadora, o dono disse que podíamos até ir lá e trocar o cartucho, mesmo não sendo esse o regulameto do estabelecimento. Me sentindo culpado e com a consciência pesando feito chumbo, disse para meu pai que não precisava trocar não...estava calor, muito sol e eu não queria que a gente saísse de casa só por isso e coisas assim.... bem sem graça, perguntei se quando eu devolvesse esse jogo eu poderia alugar "Golden Axe 2" e meu pai disse que sim. "Burning Force" acabou ficando lá em casa durate aquele fim de semana.
Acabou que não foi tão ruim assim. Meu irmão gostou bastante do jogo, assim como um amigo nosso que apareceu para jogar também. eu mesmo, depois de umas primeiras jogadas cheio de má vontade, acaei gostado de "Burning Force". Não é um dos meus jogos favoritos, admito, mas é um joguinho legal. Até já joguei mais algumas partidas dele, em minhas noites insônes na compahia dos emuladores.
Acabou que tudo foi mais ou menos como o título daquela comédia de Shakespeare... "Muito Barulho por Nada". E agora, tantos anos depois... a locadora não existe mais... meu pai não está mais aqui... não está mais comigo para ouvir minhas reclamações... e, às vezes, eu só tenho vontade de sentar sozinho e jogar um pouco de "Burning Force".

0 Comments:

Postar um comentário