DecapAttack

   Nos anos 90 a cultura pop japonesa não era tão bem cotada no ocidente como hoje em dia. Graças a isso vários jogos, considerados "nipônicos demais" para o gosto dos yankees foram remodelados, recebendo diversas alterações, desde meramente estéticas até modificações no roteiro ou mesmo histórias completamente diferentes. A lista dessas "versões" adaptadas é longa... "Yo! Noid", "Super Mario Bros 2/ USA", "Alex Kidd in High- Tech World", etc, cada uma com seu quinhão de modificações, em alguns casos mais, em alguns casos menos.

   Dentre os que sofreram mais modificações destaca-se o jogo "Decapattack", lançado pela Sega para o Mega Drive no ocidente em 1991. "Decapattack" é uma versão modificada do jogo "Magical Hat no Buttobi Tabo! Daibōken", lançado um ano antes na Terra do Sol Nascente e baseado em uma série de anime desconhecida por estes lados do globo terrestre. Não só o personagem principal foi substituído... história, roteiro, cenários, trilha sonora, inimigos... tudo foi completamente modificado, aproveitando-se apenas a engine do jogo original- a qual, por sinal, seguia a mesma linha de "Psycho Fox" do Master System e "Kid Kool" do NES.

   E o resultado ficou até bem razoável...

História e Roteiro

   Um roteiro típico de "Herói-que-Salva-o-Mundo" dos anos 90: Perdida em algum local desconhecido do oceano existe uma ilha misteriosa, com formato humanoide e um par de vulcões em forma de coração perto de seu centro. É nessa ilha que localiza-se o laboratório do doutor Frank N. Stein, cientista genial e louco de pedra- não necessariamente nessa ordem. 

   Durante anos, doutor Frank e seu assistente (que mais parece um refugo de filme B) levaram uma vida tranquila, realizando seus experimentos insanos e criando simpáticos seres que contrariam as leis naturais e do bom senso, até que um terremoto colossal pôs fim aos dias de paz e sossego.

   Max D. Cap, senhor do mundo subterrâneo (Underworld), e seu exército invadem a superfície, dispostos a conquistar todo o planeta. O terremoto que separou a ilha em diversas partes, cada uma nomeada em homenagem a alguma parte do corpo humano, é apenas o começo e Max D. Cap deixa bem claro que qualquer um que ficar em seu caminho sofrerá as consequências, sem piedade.

   Intimidador, não?

   Em vista de tamanha ameaça, o bom doutor não pode ficar de braços cruzados e convoca aquela que é a obra- prima dentre suas criações: Chuck D. Head, uma múmia decapitada cujo rosto se localiza em pleno tórax. Afinal, se um cadáver sem cabeça coberto em bandagens não puder salvar o mundo ninguém mais pode, não é?

   Chuck aceita a incumbência e, contando apenas com a ajuda ocasional de um crânio vivo, parte em sua missão, tentando reunir de novo todos os pedaços separados da ilha e fechar a passagem do mundo subterrâneo, além de derrotar Max D. Cap de uma vez por todas- não necessariamente nessa ordem.

   "DecapAttack" é um jogo um tanto exótico, que mistura elementos de horror com comédia em um ambiente cartunesco. Fora isso é pleno daquilo que eu chamo de "lógica de poucos bits", com uma série de pequenos detalhes que analisados friamente são no mínimo bastante bizarros ou incongruentes... o ataque principal de Chuck é  projetar SEU ROSTO contra os inimigos- lembrando que o rosto da jovem múmia se localiza entre o peito e o abdômem!... Apesar de ser um corpo ressequido coberto por bandagens, Chuck pode entrar na água sem maiores problemas, sem se esfarelar por inteiro... As ilhas se separam e se reúnem sem maiores problemas, como se estivessem apenas boiando na água, de uma forma geologicamente perturbadora... Chuck ao saltar consegue retardar sua queda, planando levemente em pleno ar, de alguma maneira que não consigo sequer imaginar...

   Isso sem contar que o vilão Max D. Cap parece algo como a mistura de um bárbaro de RPG com uma aberração de circo...

Gráficos

   Bons gráficos pixelados, com arte cartunesca e divertida.Os personagens mostrados nas cutscenes, como o doutor Frank ou o vilão Max, são bem desenhados, assim como os sprites dos personagens durante as fases, tanto do protagonista Chuck d. Head quando dos variados inimigos que ele esbarra em seu caminho. Os chefes de fase, em especial, são muito legais, com sprites grandes e bem feitas. Gosto em especial do sapo gigante da segunda fase.

  Os cenários são bem coloridos, embora com tons mais escuros, não tão alegres, para combinar com o estilo pseudo-terror do jogo. O design das fases é bem divertido, com muitas plataformas, buracos e obstáculos manter Chuck correndo, saltando ou perdendo vidas, enquanto o jogador pragueja feito um pirata bêbado.

Música e Efeitos Sonoros

 Boas músicas, bem de acordo com o clima e proposta do jogo. Tanto música tema quanto as músicas de fase têm um quê de trilha sonora de filme de terror antigo, embora as músicas das fases sejam um pouco mais animadas.

  Todos os efeitos sonoros são bem legais, em especial os sons dos ataques de Chuck, seja arremessando o crânio, seja seja golpeando com seu rosto de pesadelo. No geral, "DecapAttack" tem efeitos sonoros melhores que a média dos jogos de Mega Drive.

Controles e Jogabilidade

   Os controles não são tão simples, podendo causar alguma confusão durante o jogo, em especial quando se aperta o botão que aciona o Item Menu no lugar do botão de golpear ou saltar. O próprio Item Menu é um tanto problemático, mas nada que um pouco de treino não resolva.

• Direcional para Cima: Não faz nada em especial
• Direcional para Esquerda ou Direita: Move Chuck na direção indicada
• Direcional para Baixo: Agachar
• Botão A: Abre tela do Item Menu (menu para selecionar preparados químicos)
• Botão B: Atacar
• Botão C: Saltar. Aperte seguidamente enquanto estiver no ar para retardar a queda. Aperte para nadar quando estiver dentro da água.
• Start: Pausa o jogo.

Para o item menu especificamente:

• Botão A: Não faz nada em especial.
• Botão B: sai do Item Menu/ cancela seleção de preparado químico.
• Botão C: Usa item selecionado/ pergunta sobre os efeitos do item selecionado/ Segue o texto explicativo sobre o item selecionado.

   A jogabilidade deixa um pouco a desejar, sendo o ponto fraco do jogo. Os saltos em especial podem dar trabalho em alguns momentos, assim como desviar de alguns inimigos. Não é algo tão grave ou que impossibilite jogar ou apreciar o título. Não chega a cortar a diversão, mas poderia ser melhor.

Dificuldade

   Difícil o bastante para ser frustrante em alguns momentos, mas não é impossível. É um daqueles jogos em que treino e prática são a melhor forma de lidar com a dificuldade. Os chefes são mais chatos do que realmente difíceis, sendo realmente uma questão de pegar o jeito com cada um. Acho o chefe da área 3, o pássaro que cospe bolas de fogo, um dos mais complicados.

  O jogo tem alguns itens para ajudar o jogador a guiar Chuck pelos fragmentos da ilha infestados de inimigos. Em geral os itens estão dentro de pequenos ídolos ou totens de pedra, quebrados facilmente com um único golpe do "rosto" de Chuck. 

  Os itens mais comuns são diversos preparados químicos de cores e formatos variados. Cada preparado químico tem uma função diferente, passível de ser descoberta no Item Menu. Além das fórmulas químicas, Chuck pode encontrar moedas de ouro, usadas em um sub-jogo entre as fases (onde se pode inclusive ganhar vidas ou novos preparados químicos). Raramente pode-se encontrar um vida ou um coração de energia extra escondidos pelas fases.

  Existem também itens especiais, os quais, segundo o assistente do Doutor Frank, podem "ser usados para salvar a Ilha". Estão espalhados pelas fases, cada ilha possuindo um diferente.

Comentário Final

   Um bom jogo. Divertido e um tanto curioso, com personagens menos convencionais que o normal. É um jogo razoavelmente bem conhecido que provavelmente vale a pena ser revisitado, em especial para aqueles que sentem falta de jogos de plataforma ou de jogos com uma pitada de non sense. Um bom exemplo, sem ser excepcional, de um  jogo de aventura com cara de anos 90.

NOTA: 7.5

Curiosidade 1: Atualmente "DecapAttack" está disponível para compra pelo Steam ( http://store.steampowered.com/app/34318/ ). Quem deu a dica foi o usuário Antonio Neto, do fórum Retrogames Brasil. Muito obrigado, cara!