Nos anos 90, durante a acirrada
briga entre Nintendo e Sega, um bom jogo que fosse lançado para um dos consoles
e não recebesse uma versão no sistema rival tornava-se um espinho no pé do jogador não contemplado. “Kenseiden” do Master System é um bom exemplo disso,
tendo feito muito dono de NES-clone da época ficar de cara feia.
Lançado originalmente no Japão em
1988, “Kenseiden” chegou ao ocidente ainda no mesmo ano, sofrendo uma pequena
modificação: o cabelo do herói do jogo, Hayato, teve sua cor original alterada,
passando de louro para um tom negro considerado mais adequado a um samurai
japonês.
Até
hoje foi uma das poucas alterações feitas nos EUA que achei que faz algum
sentido
História e Roteiro
Roteiro épico típico dos anos 80.
Prato cheio para quem é fã do gênero. Coloque uma música oriental tocada em
flauta de bambu para tocar e deixe sua mente voltar até o Japão feudal, terra
de samurais e onis...
Era um tempo de paz e fartura
para aquela terra, até uma nuvem de destruição e ruína abater-se sobre tudo e
todos. Os cinco maléficos warlocks
retornaram (sabe-se lá de onde...) e castigam o Japão com seus poderes e servos
sobrenaturais.
Em busca de mais poder, os cinco warlocks
conseguem se apoderar da Espada do Rei Dragão/ Sword of the Dragon King e dos
cinco pergaminhos secretos/ Five SecretScrolls, herança do guerreiro Hayato, em
cujas veias corre o sangue do dragão (seja lá o que isso signifique...).
Decidido a recuperar o que por
direito é seu e a livrar o arquipélago japonês do terror (não necessariamente
nessa ordem...) o jovem samurai parte em uma longa jornada por dezesseis
províncias do Japão antigo, munido apenas de uma katana e coragem, vagando por
florestas de bambu (afinal, esse jogo é passado no antigo oriente, ora), templos,
cavernas e dojos, caçando cada warlock um a um até encontrar o mestre feiticeiro
Yonensai para um combate de vida ou morte- o que é bem óbvio... esperava que
ele fizesse o que? Jogasse Jo Ken Pô?
Se bem que isso não é lá uma
ideia tão impossível assim nos tempos de poucos bits...
Gráficos
Muito bons desde a tela de
abertura, com ideogramas formando o nome do jogo ao centro e a imagem de um
kami/divindade japonesa ( acredito que seja Ashura, uma divindade ligada a guerra) no
canto direito.
Os sprites dos personagens e os
cenários são bem desenhados e cheios de detalhes. Hayato, em especial, tem um
sprite muito bem feito, com detalhes como roupas e o cabelo preso bem
definidos. Os golpes de Hayato também são bem vistosos, em especial o golpe que
ele desfere quando agachado.
Por sua vez os warlocks são, em
geral, bem grandes e com um visual bem trabalhado, enquanto os inimigos de fase
não ficam para trás. Gosto em especial do oponente encapuzado armado com uma
corrente e foice e do guerreiro sem face usando uma armadura que dispara bolas
de energia.
Os cenários tem um tom um tanto
sombrio, com cores predominantemente mais escuras, que encaixa bem com a
história e cria um clima adequado para o jogo. São bem variados e todos lembram
filmes de samurai ou animes de luta e/ou sobrenatural. O da primeira fase, uma aldeia arruinada em meio a uma floresta de bambus, é um dos mais legais e faz
o jogo começar com o pé direito.
O esmero gráfico, entretanto,
cobra seu preço devido as limitações do hardware do Master System...
Música e Efeitos
Sonoros
Boas músicas. Gosto em especial
da música em que aparece o mapa e da música da tela de abertura, ambas com um
toque oriental. As músicas de fase são mais movimentadas, embalando a ação do
estágio.
Comparado às músicas, o jogo
possui efeitos sonoros limitados, mas que não comprometem a qualidade geral do
conjunto.
Controles e
Jogabilidade
Aqui vem um dos pontos fracos do
jogo... devido aos gráficos caprichados e com sprites grandes, a velocidade do
protagonista saiu bem prejudicada. Apesar da pose de estar correndo em alta
velocidade, Hayato na verdade se desloca um tanto lentamente. Os saltos no
decorrer do jogo vão requerer atenção especial também.
Existem alguns pequenos truques
nos comandos do personagem,como a forma de assumir a posição defensiva. De
forma detalhada temos:
- Direcional para Esquerda e Direita: Move Hayato nessa direção
- Direcional para Cima: Entra em prédios ou passagens e sobe escadas.
- Direcional para Baixo: Desce escadas. Hayato também assume a posição de agachado, e pode assumir a posição defensiva.
- Botão 1: Ataque com a espada
- Botão 2: Salto
- Direcional para Baixo e mantendo botão 1 pressionado: Hayato assume posição defensiva.
Conforme os
warlocks foram derrotados Hayato recuperará os secret scrolls/ pergaminhos
secretos, cada com conferindo uma habilidade diferente e que para ser realizado
envolve uma combinação de botões diferentes. A primeira habilidade adquirida,
por exemplo, é o High Jump/ Salto Alto e é acionado ao se pressionar direcional
para cima + Botão 2.
Dificuldade
“Kenseiden” é
um jogo bastante difícil, ao ponto de ser frustrante em alguns momentos. A
curva de dificuldade não é bem balanceada e cresce vertiginosamente após os
dois primeiros estágios. Inicialmente o jogador conta com 3 vidas, sendo uma delas perdida sempre que a barra de energia de Hayato chegar ao fim. No começo do jogo não existem continues disponíveis.
Existem alguns Salões de Treino/ Training Rounds no decorrer do jogo. Se o jogador conseguir passar pelo estágio, terá sua barra de vida ligeiramente aumentada e ganhará algum talismã de proteção. Além disso o jogo conta com vários itens e Power Ups para ajudar
o jogador, mas mesmo assim não é muito fácil progredir pelas várias fases:
- Hyotan/ Gourd of Life: Uma cabaça com um líquido revigorante. Recuperará parte da energia do guerreiro.
- Katana/ Sword: Ao coletar essas espadas existentes em alguns cenários, os golpes de Hayato causarão mais dano.
- Inro/ Medicine Case: Caixa de Remédios. Recuperará totalmente a energia do jogador assim que ela chegar a zero, evitando a perda de uma vida.
- Omamori/ Talisman of Protection: Talismãs de proteção. Aumentam a defesa de Hayato. Vem em duas cores, vermelho e azul, sendo o azul mais forte. Ambos podem ser usados ao mesmo tempo, fornecendo ainda mais proteção.
- Kokeshi/ Wooden Dool: Tradicional boneca de madeira japonesa. Confere uma vida extra.
- Hidensho/ Secret Scroll: Como dito antes, conferem habilidades especiais.
- Nikki/ Diary: Um diário. Confere um continue. Use o botão direcional para escolher essa opção e aperte o Botão 1 para selecioná-la.
O jogo possui no total 16
estágios, que podem ser jogados de forma não linear, pois você pode escolher ir
para qualquer cenário que seja fronteiriço com o que acabou de passar. O
estágio final é o 16, Edo, onde se localiza o Black Magic Castle/ Castelo da Magia Negra. Cada
estágio tem o nome de uma província japonesa antiga. A relação abaixo mostra
qual nome se liga cada um dos kanjis mostrado no mapa.
Comentário Final
Jogo muito bom, apesar da alta dificuldade
fazer com que possa ser um tanto cansativo às vezes. Foi sem dúvida uma ótima aquisição para a
biblioteca de jogos do Master System na época, em especial para quem gosta
de jogos de aventura e artes marciais.
Seu aspecto que envelheceu mais foi a
jogabilidade, sendo que a relativa lentidão do protagonista pode exasperar
jogadores mais novos, mas no geral possui uma boa combinação de gráficos,
história, música e diversão. Recomendado
a todos que gostem de jogos de aventura estilo plataforma, jogos de luta e
artes marciais, mitologia oriental e de uma pitada de
misticismo ou sobrenatural nas histórias. Quem curte animes e mangás dos anos
80 e 90 provavelmente vai gostar também.
Curiosidade 2: Alex Kidd faz uma pequena participação especial no jogo, seu rosto aparecendo na parede da caverna do estágio 3, Nagato:
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