Muitos jogos dos consoles domésticos de 8 e 16 bits eram adaptações ("ports", como usualmente se chama na língua gamer) de jogos originalmente destinados aos arcades. "Double Dragon" e "Golden Axe" são apenas dois dos exemplos mais conhecidos que me vem primeiro à mente, mas a lista é bem extensa.
Como a capacidade dos videogames domésticos era consideravelmente inferior àquela dos arcades, muitos desses ports tinham que ser drasticamente modificados, ou seja, basicamente acontecia o mesmo que em filme com orçamento apertado... passa a tesoura e cortes para todo lado!
Gráficos e música eram simplificados de acordo com a capacidade do hardware do console domésticos, cutscenes algumas vezes foram omitidas, por vezes se cortavam alguns personagens (na versão de "Golden Axe" para Master System só se podia jogar com o bárbaro Ax Battler), outras estágios inteiros (a versão do SNES de "Final Fight" cortou completamente a fase "Industrial Area", incluindo seu chefe, Rolento), e por aí vai!
"Quartet", versão de um jogo de arcade de 1986 lançada pela Sega para o Master System em 1987, foi praticamente um caso-modelo, passando por quase tudo isso... teve gráficos e sons alterados, uma drástica diminuição das mais de noventa (sim, noventa!) fases do arcade para apenas seis no videogame e a redução de elenco de quatro para o máximo de jogadores que podiam jogar simultaneamente no Master System, apenas dois- daí a versão japonesa do port ter sido coerentemente rebatizada como "Double Target- Cynthia no Nemuri", já que aí não podia mais se falar de um "quartet"... "quartet", "quarteto", sacou?
E aí lançaram uma versão nos EUA e o jogo acabou sendo re-rebatizado como "Quartet" de novo, provavelmente para os jogadores do arcade reconhecerem o jogo e assim não se arriscar perder consumidores. É... por vezes coisas assim aconteciam.
História e Roteiro
Inicialmente "Quartet" (ou "Double Target") parece ter uma típica historieta de jogo de ação em cenário de ficção científica dos anos 80: a Colônia Espacial Número 9 (Space Colony Number 9, em inglês) está sob o ataque de uma força alienígena aparentemente composta por androides e monstros de filme B, cabendo a uma dupla de heróis (a agente escassamente vestida Mary e o grandalhão de óculos escuros Edge) acabar com a bagunça. Nada demais, nada de novo, exceto pelo fato que os invasores alienígenas roubaram um ataúde- e não um ataúde qualquer, diga-se de passagem! Foi o da grandiosa imperatriz Cynthia!
Sim, os extraterrestres roubaram um caixão. Com um corpo dentro. E aparentemente só por deboche...enfim... Agora Mary e Edge devem derrotar os alienígenas, salvar a colônia e resgatar o caixão da imperatriz Cynthia e recolocá-lo em sua tumba sagrada (não necessariamente nessa ordem).
Não chega a ser lá uma grande reviravolta, mas... de fato é um tanto insólito...
Gráficos
Os gráficos de "Quartet" (ou "Double Target") não são grande coisa. Para ser bem franco, estão abaixo da capacidade do hardware do Master System, tendo gráficos bem menos trabalhados que muitos títulos do console lançados mais ou menos na mesma época.
Os sprites dos personagens são pequenos e, se não são desagradáveis aos olhos, são realmente bem simples. O mesmo pode ser dito dos sprites dos oponentes, embora seja um ponto favorável ao jogo ter um número razoável de inimigos diferentes. Algo que "Quartet" (ou "Double Target") se diferencia de muitos dos jogos de plataforma antigos é que os chefes de fase não são muito grandes (o pássaro que cospe bolas de energia da primeira fase é quase do mesmo tamanho de Mary ou Edge, por exemplo). Dentre os inimigos de fase, destaque especial para uma caveira metálica gigante e voadora (sinistro, hein?) que aparece a partir da terceira fase. Dentre os chefões, meu favorito é o lagarto da 2o fase, o qual sobe e desce agarrado às paredes da caverna.
Os cenários, esteticamente falando, são bem simplistas, até sem brilho, mas pelo menos são razoavelmente reconhecíveis. O jogo tem apenas seis fases, divididas em:
-1o Fase: O exterior da colônia espacial
-2o Fase; As cavernas
-3o Fase: O labirinto
-4o Fase: A nave espacial
-5o Fase: O templo (o mesmo onde o corpo da imperatriz Cynthia repousava? Nada é dito no manual do jogo)
-6o Fase: O interior da colônia espacial, aparentemente um setor ligada à engenharia (bem futurista, como não podia deixar de ser)
Dentre os seis cenários, o do templo é aquele que, disparado, mais me agrada. Já vi templos melhores em outros jogos, mas esse aí até que não está mal.
Uma curiosidade é que o desenho de Mary na tela de abertura sofreu alterações na versão norte- americana. Na original japonesa, Mary possui cabelo negro e liso, tipicamente oriental. Na versão lançado nos EUA ela tem cabelos castanhos e parece uma atriz do seriado "As Panteras" ou de alguma daquelas sitcom dos anos 80 em que todo mundo ficava se abraçando toda hora por qualquer coisinha. O cabelo da personagem durante o jogo reflete essa mudança.
Mary na versão do Tio Sam |
Música e Efeitos Sonoros
No todo, as músicas do jogo não são ruins, nem são fantásticas. Como é um daqueles jogos cujo ponto forte é a ação, em geral são bem agitadas, para ajudar a manter o ritmo. A música da primeira fase é a única realmente bem legal, enquanto as outras não tem nada demais, inclusive a música tema da abertura, que apenas cumpre sua função.
Os efeitos sonoros não tem nada de especial ou notável. Cumprem sua parte sem comprometer negativamente o jogo e é só.
Controles e Jogabilidade
Os controles são simples (Um botão para atirar, outro para saltar, e o direcional para definir as direções para onde se avança e agachar, obviamente) e respondem muito bem, com jogabilidade acima da média da época. Mesmo os pulos são bem precisos. Também não percebi nenhum problema na detecção de dano.
Vale a pena lembrar que "Quartet" (ou "Double Target") faz parte do punhado de jogos de Master System (assim como "Rambo: First Blood Part II"/ "Secret Commando" e "Double Dragon") que permitia duas pessoas jogarem ao mesmo tempo. Ao se jogar sozinho, automaticamente se joga com Mary. Em caso de uma dupla de jogadores, o player 1 controla Mary e o player 2 controla Edge. Não existem diferenças entre os personagens, exceto na aparência.
Dificuldade
"Quartet" (ou... não, chega... vocês já entenderam) é um daqueles jogos com dificuldade mediana mas com alguns detalhes que podem complicar a vida do jogador. Ao contrário da maioria dos jogos antigos, onde a energia do personagem era medida em barras ou corações, em "Quartet" conta-se a energia do personagem em um contador de quatro dígitos que diminui automaticamente conforme o tempo passa e também devido a golpes ou tiros recebidos. Quando o contador chega a zero, o agente morrerá ao mínimo toque e o jogador perderá uma vida. Basicamente é uma mistura de barra de energia e relógio de tempo!
Outro detalhe que pode ser chato... cada fase possui uma estrela amarela, que o jogador deve apanhar. É preciso ter recolhido todas as cinco estrelas para poder passar para a sexta e última fase. Algumas das estrelas estão a vista, mas outras ocultas e podem passar batidas se o jogador não for persistente em procurá-las.
O jogo tem alguns power-ups espalhados para auxiliar o jogador na sua luta contra os alienígenas ladrões de cadáver, como um relógio que pára o tempo ou um frasco que concede invencibilidade temporária. O mais importante dos itens que podem ser encontrados é a mochila voadora/ jet pack. Toda fase tem um e ao apanhá-lo ele ficará preso às costas do agente, que poderá voar em todas as direções. O jet pack não fica sem energia ou combustível, mas o jogador o perderá se levar algum tiro ou mesmo um esbarrão de algum inimigo, embora o jet pack fique no cenário e possa ser recuperado. Em cada estágio é necessário também recolher uma chave mágica que abre a porta de saída, deixada para trás pelo chefe da fase ao ser derrotado.
"Chave mágica? Isso não é um jogo de ficção científica? Um cartão de acesso ou algo assim faria mais sentido". Ora... estamos falando de um jogo de 8 bits dos anos 80... onde está seu romantismo, jovem gamer?
Comentário Final
"Quartet" é um jogo que alterna pontos fortes, como a boa jogabilidade, com fracos, como gráficos pouco dignos de nota. As fases tem um design até banal, além de serem também um tanto repetitivas, mas ainda assim são razoavelmente divertidas de se atravessar. A dificuldade também dá um salto considerável da 4o fase para a 5o fase, que pode pegar de surpresa ou causar frustração em alguns. No geral, "Quartet" é um jogo que, dentro de suas limitações, é capaz de divertir, desde que não se crie expectativas que ele não possa cumprir. É um título recomendado em especial para jogadores fãs de jogos de plataforma oldschool.
NOTA: 6,0
Fiquei curioso para jogar quando vi a capa, mas ao ver por dentro os inimigos e a protagonista me frustrei. Não lembro se consegui por 2 players na tela, algo raro nos jogos do Master System.
ResponderExcluir