O sucesso estrondoso do primeiro filme do "Conan, O Bárbaro" lá pelo início dos anos 80 gerou uma "bárbaro-mania" que se estendeu por todo o resto da década. Nunca a revista "Savage Sword of Conan" ("A Espada Selvagem de Conan" por aqui) vendeu tanto. O filme do Conan, como era de se esperar, ganhou uma continuação (embora mediana) e uma generosa fornada de filmes seguindo o mesmo estilo foi produzida, como "Os Bárbaros" e "Guerreiros de Fogo", além de desenhos animados como "Thundaar, O Bárbaro" e livros como "The Knight and Knave of Swords" de Fritz Leiber, estrelando o bárbaro Fafhrd e seu parceiro ladrão Gatuno, que trouxeram mais barbárie para entreter jovens que não fariam uma caminhada de meia hora por vontade própria, mas sonhavam carregar uma espada por aí,
Obviamente o mundo dos videogames não iria passar incólume a tal onda e jogos como "Barbarian" do Commodore 64 trouxeram a era perdida de aço, sangue e heróis quase monossilábicos para as telas dos monitores e TVs de tubo. Já no finzinho da década, em dezembro de 1989, foi lançado para o Mega Drive aquele que provavelmente foi (e ainda é) o mais icônico game desse gênero: "Golden Axe".
História e Roteiro
Originalmente lançado como um arcade em maio daquele mesmo ano, o port para Mega Drive manteve a mesma história do jogo intacta. "Golden Axe" possui um típico enredo de sword and sorcery, mais próximo das histórias pulp e HQs do Conan do que da High Fantasy de J.R.R Tolkien, com um mundo mais sujo, mais cru e brutal do que a Terra Média e suas tavenas do Pônei Saltitante.
O jogo narra a jornada de três heróis, o bárbaro Ax Battler, a amazona Tyris Flare e o anão do machado Gilius Thunderhead, em sua luta contra o maligno Death Adder, um guerreiro soma a seu enorme tamanho o domínio de feitiçaria, e seu variado exército de rufiões com clavas, esqueletos mortos- vivos, gigantes e correlatos para salvar a rude terra de Yuria e seus monarcas, rei e princesa herdeira, ambos aprisionados no castelo fortificado do vilão.
Yuria foi praticamente arrasada pelas forças de Death Adder... aldeias foram destruídas e queimadas pelos seus soldados e o grandalhão em pessoa matou milhares com seus machado, inclusive a mãe de Ax, os pais de Tyris e o irmão de Gilius, além de Alex, um bom amigo dos heróis. Como desgraça pouca é bobagem, Death Adder também se apodera de uma arma mística de imenso poder, o Golden Axe ("Machado de Ouro", em tradução livre).
A única chance dos heróis eliminarem Death Adder é atacando-o em seu próprio reduto, salvando assim os governantes de Yuria, recuperando o Golden Axe e conseguindo sua vingança pessoal, sem se importar que a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena, mas como as forças de Adder estão por todo o lado, os heróis devem fazer um caminho arriscado, no melhor estilo pulp, para contornar as linhas inimigas, cruzando bosques sombrios, passando por uma vila que repousa nas costas de uma tartaruga gigante e voando nas costas de uma imensa água encantada.
Parece que o tédio será o único problema que não vai ser enfrentado nessa viagem...
Gráficos
É indiscutível que os gráficos da versão do Mega Drive são inferiores aos do arcade, mas também é justo dizer que não ficam tão longe assim. Se a tela de abertura não empolga muito, a de seleção de personagens é memorável. Outro detalhe que sempre gostei muito: A arte das cut-scenes que aparecem se você deixar rolar a tela de abertura sem apertar nenhum botão e apresenta os personagens e suas motivações lembra bastante ilustrações de livros de RPG da época.
Os gráficos do jogo em si são bons. Os personagens tem sprites grandes e bem detalhados. O trio de heróis é muito bem feito e as poses de luta são vistosas, assim como os golpes executados, As sprites dos vilões não decepcionam e algumas delas são bem caprichadas, em especial a dos gigantes com martelos de pedra e do cavaleiro com armadura de placas pesada, escudo e espada longa.
Os cenários são bem legais, e se a paleta de cores é limitada, isso, longe de prejudicar, acabou ajudando a dar um tom mais lúgubre ao jogo, que combinou bastante. Alguns detalhes saltam mais a vista, como a cabeça da águia encantada no início da fase 5 ou as crianças correndo em fuga na Turtle Village (admita... é cruel, mas sempre que elas passam você tenta golpeá-las com seu machado ou espada...), mas todos os cenários são legais e bem detalhados para um jogo de 1989. Gosto bastante do ar sombrio da última fase, no interior da fortaleza, mas não tem nenhum estágio nesse jogo, todos com um quê meio pulp magazine, que não seja do meu agrado .
Outro detalhe positivo que me vem à mente é o mapa que aparece entre as fases e vai detalhando a jornada do trio de guerreiros, com a pena desenhando na hora em tinta vermelha o lugar por onde os heróis acabaram de passar. A tartaruga com os prédios no alto do casco representando a Turtle Village (Vila Tartaruga, em tradução livre) é meu momento favorito!
Acredito que o único senão dos gráficos de "Golden Axe" seja que, hoje em dia, as animações parecem mais duras do que o desejado, os personagens parecendo precisar de um par de frames a mais para seus movimentos ficarem um pouco mais fluidos.
Música e Efeitos Sonoros
A trilha sonora do jogo é muito boa. Todas as fases tem músicas com um forte teor épico, heróico, e se a música da primeira fase é icônica nesse aspecto, as outras não ficam muito atrás, como aquela que toca na 5o fase, logo após os heróis descerem das costas da águia mágica. Apenas a música da tela de abertura se difere um pouco das demais, tendo um tom mais soturno devido à ênfase na percussão.
Os efeitos sonoros não soam realmente desagradáveis aos ouvidos mas são visivelmente datados, e isso fica bem evidente quando se ouve os gritos dos personagens ao morrer. Para a época que foram lançados os efeitos sonoros tinham boa qualidade, e isso não deve ser esquecido em hipótese alguma, mas... escutados quase 30 anos depois, todos soam muito sintéticos... os golpes soam secos e o jato de fogo cuspido pelo dragão- montaria é artificial demais, carente de vida.
Controles e Jogabilidade
Os controles respondem bem. Os golpes saem com facilidade, exceto o golpe para atacar inimigos que estão às suas costas (aperte B +C simultaneamente) que precisa de um pouco mais de treino e prática para ser bem executado. Os saltos não são difíceis, sendo apenas uma questão de se pegar o jeito.
O maior senão do jogo é a questão da detecção de dano... ao jogar com Ax Battler ou Tyris Flare vai haver momentos que você jura que seu golpe acertou o inimigo mas o jogo simplesmente desconsidera. Curiosamente isso acontece com bem menos frequência com Gilius Thunderhead , o que me leva a crer que é apenas uma questão das diferenças de alcance de golpe entre os guerreiros, mas um tanto mal feita visualmente.
Dificuldade
"Golden Axe" não é um jogo fácil, mas a curva de aprendizado é bem justa. Cada partida jogada acrescenta algo para a habilidade do jogador. Com treino passa-se a saber como cada inimigo ataca e qual a melhor forma de lidar com ele e de atacá-lo de volta.
Os três heróis disponíveis para escolher possuem pequenas diferenças entre si:
* Ax Battler é o mais balanceado entre os três, tendo um bom equilíbrio entre alcance, força e poder mágico.
* Tyris Flare fisicamente é mais fraca que seus companheiros de aventura, mas é a que possui disparado mais talento para magia. Tyris também é bem ágil e possui o melhor golpe aéreo jogo (aperte direcional duas vezes seguidas rapidamente para correr e depois o botão de ataque), uma belíssima voadora!
* Gilius Thunderhead é o melhor no quesito força bruta e seu machado possui o maior alcance dentre os heróis, contudo é o que detêm menos domínio da magia, seu poder especial deixando bastante a desejar quando comparado ao de Ax ou Tyris. Seu golpe aéreo pode não ser tão eficaz quanto a voadora de Tyris, mas que é divertido dar cabeçadas nos oponentes, é...
Apesar das diferenças, não há um personagem especificamente melhor que os demais, dependendo mais do estilo do jogador do que de qualquer outra coisa. Eu, particularmente, jogo melhor com o anão Gilius, mas tive amigos que se sobressaíam com o bárbaro ou com a amazona.
Um detalhe que dá bastante vida ao jogo é a possibilidade de usar montarias, após devidamente tomá-las dos oponentes, Existem três tipos diferentes no jogo: um réptil que dá rasteiras com a cauda; um dragão que cospe uma labareda de fogo e outro que cospe bolas de fogo a uma distância bem mais longa. Mais uma vez... não há um tipo melhor que o outro... dependerá do estilo de jogo de cada um, e com qual montaria o jogador se adaptar melhor. Treine bastante com cada uma delas, pois ajudam de verdade em alguns momentos.
Um fator que complica um pouco a vida do jogador é que jogo tem poucos power ups e mesmo consegui-los não é tão fácil... conseguem-se as poções que alimentam a magia e os pedaços de carne que recuperam energia batendo e chutando em diminutos ladrões (seriam inspirados nos halflings? sempre me perguntei isso!) que aparecem em momentos específicos do jogo. Os ladrõezinhos vestidos de azul deixam cair poções, os vestidos de verde, comida. É um pouco cruel, mas não como negar o quanto chutá-los é divertido.
Ei, estamos em uma época de barbárie afinal!
Comentário Final
Capa original japonesa, onde Tyris demonstra sua incrível capacidade de dobrar o pé de uma forma anatomicamente inviável |
"Golden Axe" é um clássico que, apesar das datações impostas pelo tempo, mantem seu interesse e diversão. Não foi imune ao envelhecimento mas suas qualidades continuam superando suas limitações com folga. Recomendado em especial para fãs de jogos estilo beat'em up ou de fantasia medieval- em especial do tipo produzido por Robert E. Howard!.
Uma última coisa! Se jogado por dois jogadores ao mesmo tempo, "Golden Axe" se torna ainda mais divertido! Apenas não briguem pelos frascos de poção!
NOTA; 8,0
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