Jogos de estratégia foram (talvez ainda sejam) um dos principais gêneros para computadores, em especial a partir de meados dos anos 90. Fosse em turnos, fosse em tempo real, fosse de ficção científica ou fantasia, dúzias deles foram lançadas, logo não é de admirar que nem todos conseguissem a fama e o sucesso de um "Civilization", mas alguns conseguiram cavar um lugar para si, tornando-se um "cult" com admiradores dedicados, mesmo que não muito numerosos. Desenvolvido por uma parceria entre Triunph Studios e Epic MegaGames e lançado em 1999, "Age of Wonders" é um desses casos.
História e Roteiro
'Não, não sou o Elrond!" |
Muitas vezes "Age of Wonders" é comparado a um outro jogo de estratégia mais antigo, "Master of Magic", e, como ele, é ambientado em um típico mundo de fantasia medieval, povoado por raças típicas como elfos, anões e orcs, além de algumas criadas especificamente para o título, como os Azracs. O enredo de "Age of Wonders" também é bem típico, inclusive incluindo o detalhe de que foram os humanos os grandes causadores do encrenca:
Nos tempos que o mundo era jovem, antes que dias fizessem diferença e fossem ansiosamente contados por seres de curta vida, a Corte Élfica, regida pelo rei-mago Inioch, governava todos os seres que habitavam as terras do Continente do Norte ("Northern Continent"). De seu lar no Vale das Maravilhas ("Valley of Wonders"), Inioch mantinha o equilíbrio, sempre delicado, entre luz e sombra e nenhuma ameaça pairava sobre seus súditos.
Tudo começa a mudar (para pior, obviamente, ou não teríamos jogo) quando da chegada nas costas do Continente do Norte de uma raça banida de seu "jardim", vagando atrás de um novo lar: os humanos.
Os elfos aceitam os humanos em suas terras, contudo, logo os humanos mostraram que não haviam sido banidos a toa e se voltaram contra aqueles que os acolheram. O Vale das Maravilhas é atacado e quase toda a Corte Élfica, incluindo o rei Inioch, é morta.
A esposa de Inioch, rainha Elwin, consegue escapar, levando consigo Julia, a filha do casal. Porém o filho primogênito de Inioch, príncipe Meador, acaba ferido e ficando para trás, entre os mortos. A discórdia espalhou-se entre os sobreviventes, dividindo os elfos entre aqueles que queriam apenas reconstruir suas vidas e aqueles que queriam vingança por tudo que perderam e livrar o mundo de qualquer traço dos humanos. Estes recolheram-se em fortalezas subterrâneas e tornaram-se os elfos negros.
Banhados em sangue (que dramático, não?), duzentos anos se passam. Os humanos ainda dominam o Vale das Maravilhas. A princesa Julia cresce e se junta aos Guardiões ("Keepers"), elfos que juraram manter vivos os ideais de paz e equilíbrio de Inioch. O príncipe Meador une-se ao elfos negros e torna-se membro do Culto das Tormentas ("Cult of Storms"), a ponta de lança da cruzada contra os homens, dispostos a tudo para tornar a vida dos humanos ainda mais breves.
O confronto entre as duas facções torna-se inevitável quando uma nova estrela surge nos céus, e com ela profecias de que o momento da guerra chegou.
Liderados pela princesa Julia, os Guardiões partem para o Vale das Maravilhas, dispostos a frustrar quaisquer que sejam os planos que o Culto das Tormentas estejam tramando. Corre o boato que os Meador e os elfos negros desejam trazer Inioch de volta como um morto- vivo e torná-lo o governante de um novo tempo onde os humanos serão exterminados. A disputa entre luz e trevas pelo mundo começa.
Gráficos
Os gráficos são bons, mas poderiam ser melhores. As cenas de abertura e cutscenes tem arte bonita, embora não tão caprichada quanto as de um livro de Advanced Dungeons & Dragons. O mapa do mundo é bonito, um cenário bem detalhado, com belas montanhas, florestas e cidades. Algo bem legal é que quando você faz alguma alteração em uma cidade (constrói uma muralha de madeira, por exemplo) essa alteração também aparece no mapa do mundo (a cidade passará a ter uma barreirinha de madeira ao seu redor).
O maior defeito dos gráficos são as unidades na hora da batalha. Nada que machuque os olhos ao ser visto, mas também não impressiona. Os sprites dos personagens são até bem feitos, mas muito pequenos (logo não podem ser tão detalhados) e a animação não é nada excepcional, algumas das unidades se movendo meio duro, como bonecos em stop motion de algum filme da Sessão da Tarde dos anos 80.
Música e Efeitos Sonoros
O jogo tem mitas músicas em sua trilha sonora e são bonitas, embora sem muita coisa em especial. São típicas músicas pseudo-medievais usadas em jogos de fantasia desse tipo. Gosto em especial de duas delas, "Clouds and Feuds" e "Nature's Embrace', mas aí é mais um caso de preferência pessoal mesmo. Basicamente em termos de música fizeram o feijão-com-arroz em "Age of Wonders". Feijão-com-arroz bem feito, mas ainda assim... feijão-com-arroz.
Quanto aos efeitos sonoros... são abaixo da média. O som do galope do cavalo que se ouve ao movimentar seu herói pelo mapa, por exemplo, parece ser mais rápido do que deveria, soando esquisito. Os sons durante as batalhas (feitiços, golpes e gritos de morte) decepcionam um pouco e realmente poderiam ser bem melhores.
Controles e Jogabilidade
Como na maioria dos jogos de estratégia, a maior parte do tempo se estará usando o mouse para jogar, selecionando unidades, escolhendo opções e clicando no lugar do mundo se quer despachar suas unidades, mas existem algumas hotkeys que podem facilitar a vida do jogador. O jogo é em turnos (embora fora de batalha o turno seja simultâneo para jogador, aliados e oponentes) logo velocidade de resposta aos comandos não é uma questão relevante.
Um ponto a ser frisado: o jogo tem várias telas diferentes, acessadas da tela principal, e cada uma tem opções relativas a diferentes funções e aspectos dentro do jogo, passíveis de serem ajustadas de acordo com a necessidade ou estratégia do jogador (por exemplo, na tela referente à magia pode-se ajustar quanto do mana disponível será usado para gerar cristais, necessários para lançar feitiços em batalha, ou para pesquisa de novas magias). A melhor forma de se habituar com as diversas telas e suas funções é através do tutorial. Não tenha preguiça e jogue-o.
Dificuldade
"Age of Wonders" é um jogo de estratégia mais hardcore, bem mais difícil que alguns dos medalhões do gênero como "Warcraft" ou "Age of Empires". O jogo é bem pouco intuitivo, sendo daqueles em que o ideal é ler o manual primeiro, jogar o tutorial em seguida e só então partir para a campanha- e mesmo assim você terá momentos em que ficará perdido por ter esquecido algum pormenor (eu mesmo, por exemplo, esqueci como desembarcar as tropas carregadas nos navios, o que me tomou um tempão durante a partida). O jogo é cheio de detalhes e realmente custa um tanto para se pegar o jeito,
Fora isso, o jogo em si, o gameplay mesmo, não é fácil. O jogo possui apenas dois recursos, ouro e mana, mas isso não o torna mais fácil... as (poucas) melhorias passíveis de se fazer nas cidades são caras e além disso cada tropa tem um custo de manutenção por turno, enquanto sua receita em ouro, mesmo em cidades grandes, não é nada de encher os olhos... muitas vezes você acaba no dilema de melhorar sua infraestrutura (até para conseguir ter mais ouro por turno) ou ter mais tropas para atacar e evitar que o inimigo fique muito forte (e de fato eles ficam fortes em pouco tempo) e acaba entrando pelo cano. A administração de tropas, cidades e recursos em "Age of Wonders" não é moleza.
Outro fator de dificuldade é que o inimigo sempre parece ter unidades de nível acima das suas- e isso independente de você ter escolhido jogar com os "Keepers" ou com "The Cult of Storms"! Um exemplo que me vem a cabeça é que, se você joga no lado da Luz, o lado das Trevas consegue unidades voadoras antes de você, tornando as muralhas das suas cidades bem menos relevantes. Tudo isso faz você depender muito mais de planejamento e estratégia do que da força bruta pura e simples.
Comentário Final
"Age of Wonders" realmente é um jogo cult, e, como jogo de estratégia, não é para todo mundo. Não acho que seja exagero supor que um jogador mais casual vai deixá-lo de lado em pouco tempo.
"Age of Wonders" acaba sendo meio jogo de xadrez, onde cada passo tem que ser bem medido, tentando antecipar os movimentos do inimigo e calcular os próprios com antecedência, fazendo que tenha um ritmo mais lento. Alguns jogadores vão gostar (eu sou um deles), outros vão odiar, mas de qualquer forma isso confere ao jogo alguma especificidade dentro de um gênero tão saturado em quantidade de títulos.
Para quem tem paciência e gosta de planejamento e estratégia cuidadosos, é uma boa experiência. Recomendado em especial para fanáticos por jogos de estratégia em turnos ou fãs ardorosos de fantasia medieval.
NOTA: 6,0
Uma verdadeira pérola dos old games. Bela análise do jogo, realmente disseste a verdade: não é um jogo que agrada a todos. Mas a dificuldade, ambientação e atmosfera gerada me agradam bastante.
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