Todo console tem sua cota de "hidden gems", jogos muito legais que receberam menos atenção ou reconhecimento do que mereciam. aqui no Brasil, um dos poucos países onde o Master System fez sucesso, nomes como "Jogos de Verão", "Shinobi", "Great Soccer", "Rambo III" e "Castle of Illusion" vivam na boca da rapaziada. Não lembro, entretanto, de ninguém comentar algo sobre "Kung Fu Kid". Eu mesmo só tomei conhecimento desse jogo uns poucos anos atrás.
O que é uma pena...
Lançado no Japão originalmente como "Makai Retsuden" em 1987 pela própria Sega, o jogo chegou ao ocidente ainda no mesmo ano, mas rebatizado como "Kung Fu Kid". É a continuação de outro jogo da Sega, "Dragon Wang", lançado para um console anterior, o SG-1000. O nome um tanto pueril que o jogo recebeu nesse lado do planeta talvez tenha sido um dos responsáveis pela recepção pouco calorosa na época... Vai saber...
História e Roteiro
O roteiro é de uma época onde lutas e aventuras estavam em alta, tendo todas as características básicas do período: Um herói corajoso, um vilão maligno, um objetivo nobre a ser alcançado, seres fantásticos e cenários devaneantes. Está tudo lá, pode conferir!
Tempos atrás, no oriente, um ser maligno, Madanda, acorda de seu sono de centenas de anos. A frente de um exército de seres sobrenaturais por ele convocados, Madanda ameaça uma indefesa vila e seus habitantes. Um destino terrível os aguarda: servirem de alimento para a fome milenar da criatura.
A única esperança reside em Wang, jovem lutador de extremo talento, considerado o mais habilidoso de toda a China. Munido de nada mais do que seus vigorosos chutes e voadoras, além de um ou outro eventual amuleto Ofuda, Wang deve enfrentar Madanda e seus asseclas que parecem saídos da mitologia oriental em seu próprio território, cruzando florestas de bambu, palácios e templos amaldiçoados.
Obviamente tinha que ter uma fase passada em uma floresta de bambu. Jogo que se passa no oriente e não tem uma fase em uma floresta de bambu não tem graça.
Gráficos
Muito bons. Coloridos e detalhados, com ótimo trabalho pixelado. As sprites dos personagens são bem feitas, e os golpes de Wang são bem vistosos. Os cenários tem alguns detalhes muito legais, como o mosaico de dragão oriental ao fundo de uma das lutas contra chefe de fase, ou o cenário formado por paredes de azulejos azuis com desenhos.
Tudo é realmente bem feito e demonstra um esmero notável da equipe que criou o jogo, ainda mais se levarmos em conta que era um console de apenas 8 bits.
Música e Efeitos Sonoros
Músicas com cara de filme de kung fu antigo, em especial a da abertura. Combina feito uma luva no jogo e vai te embalar enquanto você corre, salta e chuta fases adentro. Os efeitos sonoros não deixam a desejar. Tudo se encaixa bem, o ritmo, o estilo, os arranjos, complementando os gráficos adequadamente.
Controle e Jogabilidade
Sem problemas nesse quesito. Os controles são fáceis de pegar e respondem sem maiores problemas, mesmo com as limitações de hardware da época. Pode ocorrer uma pequena falha na detecção de dano aqui ou ali, mas de forma alguma é algo que comprometa o jogo.
No que toca os controles, o que mais se deve prestar atenção é na forma de arremessar os amuletos. Em geral os golpes são bem intuitivos de serem feitos.
- Direcional para esquerda e direita: Move Wang nessa direção
- Direcional para baixo: Agachar
- Direcional para cima: Sozinho, nada em especial. Necessário para arremessar o amuleto (confira abaixo).
- Botão 1: Salto. Segure o botão para saltar mais alto.
- Botão 2: Chute.
- Direcional para baixo + chute: Wang aplica uma rasteira. Útil contra inimigos pequenos.
- Saltar + segurar botão de chute no ar: Voadora. golpe muito eficiente.
- Saltar em uma parede e ao encostar nela saltar de novo: Wang usa a parede como apoio para saltar mais alto ou em outra direção. Necessário para alcançar alguns locais durante o jogo.
- Para Cima + botão 1: Arremessa um amuleto. O talismã é a única forma de derrotar um inimigo específico do jogo. Fique atento.
Dificuldade
Ao contrário da maioria de jogos da época de 8 bits, "Kung Fu Kid" consegue equilibrar muito bem a equação Desafio + Diversão. O jogo não tem um nível de dificuldade absurdo ou injusto, mas é o suficiente para evitar monotonia. Existem alguns Power Ups bem escondidos espalhados pelo jogo que podem ser úteis, mas fui capaz de vencer o jogo sem eles. Mesmo as partes mais difíceis desse jogo não se comparam a verdadeiros pesadelos de 8 bits, como o castelo de Janken em "Alex Kidd in Miracle World" ou as últimas fases de "Ninja Gaiden".
Comentário Final
O jogo envelheceu bem. Não tem nenhuma inovação ou característica extremamente marcante, mas é muito bem feito e divertido, sendo seu maior defeito ser um tanto curto. É um jogo leve e gostoso de se jogar, excelente para passar o tempo em uma tarde chuvosa, e com certeza merecia mais reconhecimento. Recomendado a todos que gostem de jogos plataforma de aventura, jogos de luta, mitologia oriental e animes shonen, além de jogadores oldschool como um todo.
NOTA: 8.5
CURIOSIDADE 1: "Kung Fu Kid" foi remodelado e relançado no fim da vida útil do Master System no Brasil como "Sapo Xulé: O Mestre do Kung Fu", sendo virtualmente o mesmo jogo, apenas substituindo o sprite de Wang por um do Sapo Xulé vestido com um kimono branco, bem menos caprichado que o do protagonista original. Essa versão será solenemente ignorada e não será resenhada aqui no OSD, pelo menos por mim.
CURIOSIDADE 2: Talismãs Ofuda são pequenas tiras de papel, ou pequenas placas de madeira ou outro material, com inscrições de cunho religioso, geralmente o nome de algum kami (divindade xintoísta) e do templo onde foi feito. Servem para proteção contra males em geral, inclusive doenças e podem ser pendurados em portas, etc. Aparecem comumente em animes e mangás, como por exemplo em "Sailor Moon"onde são usados pela Sailor Marte como armas contra seres sobrenaturais.
Adoro esse jogo! heheh
ResponderExcluirKendier, velho amigo... é você mesmo? Do Dotaku e do ICBJ?
ResponderExcluirEsse jogo é muito bom mesmo. O próximo review do Master system também será d eum jogo inspirado no antigo oriente, e bastante querido pelos otakus e jogadores mais antigos: KENSEIDEN!
Excelente review. Parabéns.
ResponderExcluirEngraçado que semana passada brinquei um pouco com esse "hack", o Sapo Xulé.
Uma curiosidade que tenho é saber quais são os jogos originais que foram oficialmente (?) hackeados aqui. Só do Xulé tem 03.:)
Obrigado, Luiz.
ExcluirAgora... cara, você deve ter algum nível de poder psíquico ou algo assim... RD e eu conversamos hoje em fazer um especial só falando disso.
Só adiantando um pouco, o caso mais famoso foi o do Super Mario Bros. 2/ USA, que originalmente era um jogo chamado Yume Kōjō: Doki Doki Panic